22.09.2020 – Wanderley Saraiva Gandra, representante contratado pela Maersk e Viggo Andersen, executivo da empresa dinamarquesa de operação logística, dedicada à prestação de serviços de navegação marítima, foram formalmente acusados por corrupção ativa, em face de Eduardo Autran, ex-funcionário da Petrobrás, ocupando a função de Gerente Executivo de Logística, subordinado ao ex-Diretor de Abastecimento Paulo Roberto Costa, que passou a responder por corrupção passiva e peculato.

Trata-se de um desdobramento da 70ª fase da Operação Lava Jato, em trâmite na 13ª Vara da Justiça Federal de Curitiba, que aceitou a denúncia contra os indivíduos citados anteriormente.

As investigações iniciadas após a delação premiada de Paulo Roberto Costa concluíram que informações privilegiadas sobre as demandas da Petrobrás para afretamento de navios de grande porte eram fornecidas à Maersk por parte dos funcionários acima citados, mediante suborno fornecido pelos mesmos, resultando em prejuízos, inicialmente apurados em US$ 31,7 milhões de dólares norte-americanos (cerca de R$ 170 milhões de reais no câmbio atual).

Segundo o Ministério Público Federal, Viggo teria acertado internamente na Maersk, que o mesmo teria direito a uma comissão de 2,5% sobre os valores a serem pagos pela Petrobrás nos afretamentos de navios, sendo que o mesmo repassaria metade da comissão para a empresa de representação de Wanderley, que mesmo sem experiência no setor, constituiu uma empresa de shipbroker denominada Gandra Brokerage e por sua vez, faria o pagamento do suborno a Paulo Roberto Costa, em troca das informações privilegiadas, em um esquema que durou de 2006 a 2014. Quem recebia os valores para Paulo Roberto Costa era justamente Eduardo Autran. E em razão da inexperiência de Wanderley, a Maersk teve de contratar um shipbroker efetivo, ou seja, a Maersk Brasil, para realizar os trabalhos, dobrando seu custo operacional.

É importante salientar que entre 2002 e 2012, a Maersk e suas subsidiárias acordaram 69 contratos de afretamento com a Petrobrás, alcançando valor aproximado de R$ 968 milhões de reais, embora a investigação tenha centrado seus esforços em 15 contratos de afretamento marítimo entre 2006 e 2014, em valor equivalente a R$ 658 milhões de reais.

Em uma estimativa inicial, os subornos teriam alcançado o valor de US$ 3.402.941,58, segundo uma planilha apreendida com Paulo Roberto Costa.

Encontram-se também, sob investigação, contratos de afretamento com a Tide Maritime, Ferchem, Athenian Sea Carriers, Tsakos Energy Navigation, Dorian (Hellas) e Aegean Shipping Management.

Um aspecto inusitado nesse caso é a nacionalidade da empresa Maersk, ou seja, a Dinamarca, alocada em 1º lugar no ranking do Corruption Perceptions Index em 2019 (o índice mais recente em relação à data de publicação desse artigo), criado pela Transparência Internacional, corroborando a Dinamarca como país com menor grau de corrupção em todo o mundo.

Além disso, esse novo desdobramento da Operação Lava Jato demonstra o prejuízo colossal que a corrupção ocasionou ao Brasil e quase golpeou mortalmente a Petrobrás.

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