12.03.2020 – Era um frio início de manhã do dia 29 de setembro de 1982 em Chicago, IL, nos EUA, quando Mary Kellerman, uma adolescente de apenas 12 anos queixou-se a seus pais da garganta inflamada e do nariz congestionado. Seus pais prontamente lhe ofereceram um comprimido de Extra Strenght Tylenol (paracetamol), para aliviar os seus sintomas. Para o seu desespero, Mary estaria morta antes das 7h da manhã.

Após investigação, a polícia identificou a presença de cianeto de potássio – um veneno altamente letal, presente no comprimido, tendo ele sido o causador do falecimento fulminante de Mary.

Naquele mesmo dia, um carteiro de 27 anos chamado Adam Janus, morador de Arlington Heights, IL, nos EUA, também faleceu, sendo sua causa morte inicialmente considerada como um infarto do miocárdio. Após exames, foi identificado a causa da morte por envenenamento, em virtude da ingestão de cianeto de potássio.

Seu irmão Stanley, de 25 anos e sua cunhada Theresa, de 19 anos, moradores de Lisle, IL, acorreram à residência de Adam, ao saber de seu trágico falecimento e diante da “dor de cabeça”, tomaram um comprimido de Tylenol do mesmo frasco utilizado por Adam. Stanley faleceu no mesmo dia, ao passo que Theresa ainda conseguiu manter-se viva por mais 48 horas, vindo a falecer.

Nos dias seguintes, mais 3 mortes: Mary McFarland, de 35 anos, moradora de Elmhurst, IL, Paula Prince, de 35 anos, moradora de Chicago, IL e Mary Weiner, de 27 anos, moradora de Winfield, IL. Porém, até então, os investigadores não haviam conseguido estabelecer a causa comum, como sendo o comprimido envenedado de Tylenol.

Somente no fim da primeira semana de Outubro/82, os investigadores conseguiram estabelecer, como causa morte comum a todos, a ingestão do comprimido de Tylenol envenenado.

Cápsulas de Tylenol contaminadas com cianeto, permaneciam ao lado de cápsulas não adulteradas, no consultório do médico legista em Cook County, Illinois.

Tylenol era um sucesso em vendas e sua fabricante Johnson & Johnson faturava ao redor de USD$ 500 milhões de dólares apenas com a venda desse produto, detendo 37% do mercado de analgésicos nos EUA. Sua cápsula gelatinosa era muito popular porque era escorregadia na boca e fácil de engolir. O medicamento era, na verdade, fabricado pela McNeil Consumer Products, uma subsidiária da gigante norte-americana, cuja fábrica ficava localizada em Fort Washington, PA.

Tão logo a Johnson & Johnson soube do nexo entre as mortes e do possível envenenamento envolvendo seu medicamento Tylenol, a empresa imediatamente ofereceu uma recompensa de USD$ 100 mil dólares por qualquer informação que pudesse levar à causa do envenenamento de seu produto.

As investigações se voltaram também para a fábrica da McNeil Consumer Products, buscando informações sobre o uso de cianeto. O jornal The New York Times escreveu à época: “John L. Sutter, diretor de controle de qualidade da empresa, disse que o cianeto foi usado na fábrica da McNeil em Fort Washington, Pensilvânia, para testar o ingrediente povidona, um agente de ligação farmacêutica comum, para garantir a ausência de chumbo, um veneno, cuja presença é controlada pelos regulamentos federais. Mas ele disse que o cianeto foi mantido em pequenas quantidades em um laboratório separado do processo de fabricação. Ele disse que o laboratório estava no mesmo prédio, com acesso limitado aos funcionários, mas desconsiderou a possibilidade de a contaminação ter ocorrido na fábrica ou em outro local de fabricação da empresa no Texas. Enquanto isso, o procurador-geral de Illinois, Tyrone Fahner, que coordenava os esforços de investigação de 15 agências estaduais e locais, disse que os investigadores acreditavam que a violação ocorreu depois que as drogas chegaram a Illinois“.

Diante da gravidade da situação, a Johnson & Johnson instaurou um comitê de crise, que diante de todos os cenários possíveis, não hesitou em determinar o recall de 22 milhões de unidades de Extra Strenght Tylenol, em todo o território norte-americano, com perdas de milhões de dólares. Além de recolher o medicamento, a Johnson & Johnson mudou para sempre o cenário farmacêutico mundial, quando a um custo de USD$ 100 milhões de dólares, desenvolveu novos métodos de segurança para seus medicamentos e proteção de seus consumidores.

Em trabalho conjunto com o FDA – Federal Drug Administration (A ANVISA norte-americana), foi criada uma nova embalagem à prova de adulteração, que incluía selos de alumínio, cujo rompimento era facilmente notado por qualquer pessoa. Tais medidas de proteção se tornaram um padrão para a indústria farmacêutica à época.

Também alterou a composição de suas cápsulas gelatinosas, inviabilizando a possibilidade de ser injetada qualquer substância estranha sem danificá-la.

E qual foi o grande triunfo da Johnson & Johnson, além de todas as ações acima… o seu tempo de reposta. O seu tempo de resposta indubitavelmente evitou a morte de outros consumidores.

À época, alguns críticos já anunciavam a saída definitiva de Tylenol do mercado e possivelmente um golpe quase fatal para a empresa. Mas a resposta da Johnson & Johnson foi acima de qualquer expectativa e não apenas recuperou a sua credibilidade, mas se tornou uma das companhias mais inovadoras, seguras e com produtos de excelência, com respeito à qualidade.

Que o exemplo da Johnson & Johnson possa inspirar outras empresas a conjugar seu negócio com a sua missão, valores corporativos e principalmente, respeito e foco em seus consumidores… no caso da Johnson & Johnson, pacientes!

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