
04.04.2020 – Passados o “Petrolão” e a “Operação Lava Jato”, fica a pergunta: – afinal, qual foi o tamanho do rombo causado na Petrobrás pela corrupção?
Para quem acha que a resposta é simples… engana-se. Primeiramente, é importante salientar que houve diversas frentes de investigação, incluindo a Polícia Federal, o Ministério Público e investigadores externos, inclusive estrangeiros, por potencial violação de leis anticorrupção estrangeiras.
O “Petrolão” foi o maior escândalo de corrupção conhecido em toda a estória do Brasil. Ele ocorria da seguinte forma… a Petrobrás precisava contratar empreiteiras para a realização de obras vultosas. Alguns funcionários da Petrobrás, à frente das negociações, cobravam propina dessas empreiteiras, fechando contratos superfaturados (com preços acima da média de mercado ou do orçamento justo para a execução da obra). O excedente era então dividido entre 2 partidos políticos (PT e PP), o funcionário da estatal e o operador responsável pela distribuição do dinheiro.
Segundo a apuração feita pela Polícia Federal, existiam 3 formas do valor da propina chegar aos beneficiários:
- Doação pelas empreiteiras a partidos políticos, em campanhas eleitorais.
- Remessa para contas de laranjas no exterior.
- Compra de bens, especialmente imóveis, além de reformas de imóveis para políticos.
Estiveram envolvidas as maiores construtoras do país e as principais obras suspeitas de superfaturamento foram a Refinaria Abreu e Lima (PE), a Refinaria Presidente Getúlio Vargas (PR), o Complexo Petroquímico do Rio de Janeiro (RJ) e a Refinaria de Pasadena (Texas, EUA).
Em janeiro de 2015, a Seção de Economia do Site G1 publicava inicialmente que o “cálculo apresentado durante a reunião do Conselho de Administração da Petrobrás, realizada em 27 de janeiro de 2015, indicava a necessidade de uma baixa contábil de R$ 88,6 bilhões de reais nos ativos da companhia referentes às perdas com corrupção, ligadas à operação Lava Jato“. Entretanto, no mesmo artigo, a presidente da Petrobrás, à época, Graça Foster, já esclarecia que a metodologia utilizada não fora adequada, pois o ajuste seria composto de diversas parcelas de naturezas diferentes, sendo impossível de serem quantificadas individualmente. No mesmo artigo, divulgou-se o lucro líquido da estatal no terceiro trimestre de 2014, alcançando R$ 3,087 bilhões de reais; o que causa verdadeira perplexidade no número que fora informado.
Em setembro de 2015, a Revista Exame publicou uma notícia informando que a Operação Lava Jato estimava que seis empreiteiras acusadas de corrupção, tivessem dado prejuízo de R$ 20 bilhões de reais, ao longo de 10 anos, estando esse cálculo anexado à denúncia contra o ex-presidente à época, Luiz Inácio Lula da Silva, sob análise do juiz da causa, Sérgio Moro.
Em novembro de 2015, a mesma Revista Exame publicou uma notícia sobre o novo laudo elaborado pela Polícia Federal, apontando um rombo de R$ 42 bilhões de reais, em decorrência de pagamentos indevidos feitos pela Petrobrás, entre 2004 e 2014, para 27 empresas sob investigação da força-tarefa da Operação Lava Jato. Nesse estágio da investigação, já havia a conclusão de que havia um cartel (conluio entre empresas violando a livre concorrência) comandado pelas maiores empreiteiras do país e por partidos políticos, sendo então incluído mais um partido político, o PMDB. Estimou-se uma “gordura” de 3% a 20% de excedente a ser dividido entre os beneficiários.
Em janeiro de 2018, a Seção de Economia do site UOL publicou uma notícia sobre o acordo de US$ 2,95 bilhões de dólares norte-americanos para encerrar uma ação coletiva ajuizada por investidores da estatal nos Estados Unidos, em razão dos atos de corrupção envolvendo a empresa. No mesmo artigo, a Petrobrás declarava que já havia recuperado R$ 1,47 bilhões de reais.
Em setembro de 2018, a Seção de Economia do site G1 publicou um novo acordo fechado pela Petrobrás, a qual teria que pagar R$ 3,6 bilhões de reais para encerrar investigações feitas com o Departamento de Justiça dos Estados Unidos (US DOJ) e a Comissão de Valores Mobiliários daquele país (SEC), totalizando US$ 853,2 milhões de dólares norte-americanos. O detalhe é que, conforme acordado com a intervenção do ministério público brasileiro, 80% desse valor seria destinado às autoridades brasileiras.
E, recentemente, em dezembro de 2019, o Jornal Valor Econômico publicou uma notícia sobre a aplicação de multas pela Petrobrás, no valor de R$ 6,4 milhões de reais em multas, utilizando-se da Lei Brasileira Anticorrupção – 12.846/2013. O mesmo artigo informa que a Petrobrás, até então, teria recuperado R$ 4,2 bilhões de reais. Como se pode comparar com os valores acima, o rombo continua expressivo.
O fato é que o cálculo desse rombo não é simples. A totalidade de superfaturamento é facilmente identificada por uma auditoria. Todavia, o principal desafio é o impacto negativo nas ações da empresa, causando a perda de bilhões a si e a seus acionistas, em oscilação negativa diária e imprevisível de valores. Além disso, a imagem e credibilidade da empresa são peremptoriamente manchadas.
Parafraseando Warren Buffett (bilionário americano e megainvestidor), que conhece melhor do que ninguém os efeitos danosos da corrupção, são necessários 20 anos para construir uma reputação e apenas cinco minutos para destruí-la. Não fosse a Petrobrás estatal, poderia ter tido um destino semelhante ao da gigante norte-americana de energia Enron.
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