
09.06.2020 – Recentemente, presenciei uma discussão a respeito das características de um gestor eficiente e, dentre elas, figuravam a forma rude e sem qualquer apreço emocional ao seu time.
Gostaria de começar a tratar desse tema, citando o texto de autoria do jornalista e ex-deputado João Mellão Neto, que recentemente nos deixou. Aliás, texto tão interessante que foi publicado pelo Jornal o Estado de São Paulo, em 20 de agosto de 1999 e compilado pelo brilhante professor Robert Henry Srour, em sua obra prima Ética Empresarial:
“Em 1944, voltando de uma missão, aviões da Royal Air Force estavam sendo perseguidos por uma esquadrilha da Luftwaffe. Naquela noite fria, a tripulação do porta-aviões britânico aguardava ansiosa. O comandante do navio anunciara que dali a dez minutos apagaria as luzes de bordo, inclusive as da pista de pouso. A maioria dos aviões pousou a tempo. Mas restaram três retardatários. O comandante concedeu mais dois minutos. Dois aviões chegaram. As luzes então foram apagadas por ordem dele.
A tripulação do navio e os pilotos ficaram revoltados com a crueldade do comandante. Afinal, deixou um avião perdido no oceano; por que não esperou mais alguns minutos?
O dilema do comandante foi o de ter que escolher entre arriscar a vida de milhares de homens ou tentar salvar os tripulantes da aeronave. Perguntou a si mesmo: quais seriam as consequências se o porta-aviões fosse descoberto? Um possível morticínio. Foi quando decidiu sacrificar os retardatários.”
Fazendo a analogia desse texto dentro do mundo corporativo, o dia a dia, por vezes, é igualmente belicoso. O gestor eventualmente se vê obrigado a fazer redução de despesas, corte de pessoal, reestruturação de equipes e a empreender outras ações nem sempre simpáticas, para garantir a sustentabilidade do negócio. No campo da filosofia ética, isso chama-se ética da responsabilidade.
Dentre muitas pessoas iluminadas que tive o prazer de cruzar ao longo da minha vida, uma delas chamou-se Otto Fernando de Brito Ewald, irmão de Luiz Carlos Ewald (conhecido por seus quadros de economia no Fantástico) e primo de Rubens Ewald Filho, nosso eterno crítico de cinema. Eu ingressava no mundo corporativo, quando Otto já liderava a diretoria de finanças de uma das maiores empresas do mundo. E ele costumava repetir uma frase: – Não confunda seriedade com sisudez. Eu sou uma pessoa séria, mas nem por isso preciso ser uma pessoa sisuda. Foi uma das primeiras grandes lições que aprendi na vida corporativa, pois Otto foi um dos gestores mais gentis com quem já tive o prazer de trabalhar, mas nem por isso, era menos sério ou menos eficiente. Era uma referência…
O gestor eficiente é aquele que consegue aliar a sua visão de sustentabilidade do negócio à formação de uma equipe de talentos vencedores. E a não ser que algum desses talentos tenha alguma tendência masoquista, nenhum deles suportará maus tratos por muito tempo.
O gestor líder deve ser o exemplo a ser seguido, deve tratar a todos a sua volta com respeito e gentileza, mas separar a relação de amizade da relação de trabalho, afinal os resultados devem ser atingidos e as performances devem ser mensuradas, sem privilégios ou discriminações.
O mundo corporativo precisa de líderes, não de tiranos!
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