30.12.2021 – Dilemas éticos se sobrepõem a todo momento no mundo corporativo, a começar pela ideia do lucro ser questionada por alguns como algo que pudesse ser contrário a princípios éticos.

Seja como for, qualquer análise precisa ser feita a partir de duas premissas: (i) Ética é uma ciência social que lida com valores morais de um ser humano em um meio social e (ii) Qualquer análise, sob a ótica da ética, precisa ser feita de forma a examinar a questão sob o prisma de 360 graus, ou seja, um detalhe pode diferenciar uma ação ética de outra antiética.

Logo, se o lucro é auferido, por exemplo, pela gestão competente dos administradores ou ainda pela excelência na performance dos colaboradores, motivados por premiações para o atingimento das metas, tal lucro é absolutamente ético, já que é o resultado de ações lídimas e escorreitas. Todavia, se esse lucro decorre da sonegação de impostos, do não pagamento integral dos salários dos colaboradores, da aquisição e emprego de matérias primas deficientes, etc… tal lucro pode e deve ser questionado sob o aspecto ético, especialmente sob o prisma da teoria deontológica, ou seja, o prisma da ética da convicção.

Porém, os dilemas estão longe de residir apenas na questão do lucro. Comunistas e socialistas defenderiam, por exemplo, a igualdade de renda para todos, o que aparentemente condicionaria ao mundo perfeito, já que seriam extintas as assombrosas desigualdades na distribuição de renda existentes hoje no Brasil e nos demais países. Entretanto essa ideia contraria sobremaneira a máxima de que ser justo, é tratar com desigualdade os desiguais. Isso quer dizer que ao uniformizar compulsoriamente a renda, seríamos forçados a lidar com alguns eventos adversos, como, por exemplo, aquele que não se esforça na sua atividade ganhar o mesmo que aquele que é comprometido e dedicado na obtenção do seu resultado, ou ainda, ignorar o conhecimento diferenciado daquele que estudou com afinco ou que tem um dom para determinada atividade, já que o seu reconhecimento através da remuneração seria equivalente a de um trabalhador com performance medíocre.

Eticamente falando, aquele que se destaca, deveria merecer um reconhecimento proporcional ao resultado das suas conquistas. E não é de outra forma, que as empresas procuram estabelecer seu quinhão de remuneração variável baseado na performance do colaborador. Mas, uma vez mais, alguns problemas éticos poderiam comprometer a excelência do processo, tais como, por exemplo, uma avaliação de performance viciada em razão de amizades, preferências ou tráfico de influência, ou ainda, o estabelecimento de metas mais fáceis para alguns e impossíveis para outros.

A propósito, vale ainda citar a famigerada relação entre empregador e empregado, tão atacada por Karl Marx e Friedrich Engels no século XIX, na qual o empregador é visto como o explorador e o empregado como a parte hipossuficiente explorada, de forma comezinha, pelo empregador. Assim como nos exemplos acima, tal situação de opressão pode ocorrer sim, conflitando com princípios éticos, Todavia, muitos empregadores fomentam o desenvolvimento econômico e social, possibilitando a um incontável número de empregados perceber uma remuneração digna como fruto do seu trabalho. Além disso, tais empregadores empreendedores enaltecem a ideia de que ao invés de investir de forma mais segura seus recursos em ativos financeiros, arriscam-se às vicissitudes do mercado, gerando empregos e renda à classe trabalhadora… aliás, não apenas a essa, mas a um incontável número de prestadores de serviços, consultores e fornecedores de bens.

A despeito da corrente filosófica adotada, seja consequencialista, seja deontológica, o fato é que a análise ética pode resultar em diferentes ilações, para uma situação aparentemente semelhante, bastando que alguma variável específica modifique o propósito, a intenção ou até mesmo o resultado.

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